A Memória do Aqueduto
A Memória do Aqueduto

E se a água que sai da tua torneira só fosse potável na versão premium que não podes pagar? E se o saneamento ameaçasse afogar-te? E se a solução para nos salvar estivesse no aqueduto construído por Adriano, o Imperador romano?
“A Memória do Aqueduto” é um espetáculo criado pelo Visões Úteis, em coprodução com o FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, em parceria com as Águas do Porto, EM, e programado para um reservatório de água desativado, na cidade do Porto, na zona do Amial.
O projeto dá continuidade às criações do Visões Úteis para sítios específicos e volta a juntar Carlos Costa e Jorge Palinhos, depois das suas mais recentes colaborações entre jogos de tabuleiro, realidade virtual e estátuas no espaço público.
Nesta ficção - ou profecia - vamos encontrar um engenheiro da empresa de águas do Porto e um outro da empresa de águas de Atenas - sim, parece uma peça para engenheiros, tanto mais que os intérpretes são mesmo engenheiros com experiência na gestão de águas; ambos em busca de soluções para os problemas distópicos em que as suas cidades arriscam flutuar ou afundar: a água que deixa de ser potável e o saneamento que ameaça engolir-nos.
O espetáculo apresenta-se como um convite sensorial à imersão num espaço e património únicos da cidade do Porto, num registo visual e sonoro sedutor, em que uma das mais sérias inquietações da humanidade se confunde com um ambiente retro de ficção científica.
Antes da estreia, desenvolveremos várias atividades de mediação social e artística, no Bairro do Carriçal, que rodeia o reservatório; isto em parceria com a FAP - Federação Académica do Porto e as Águas do Porto. Neste âmbito, planeamos levar as crianças/utentes do núcleo do Carriçal do projeto FAP no Bairro, numa visita ao Pavilhão da Água e noutra ao Parque das Águas; pretendemos também dinamizar uma atividade na EB1 de São Tomé, acerca do ciclo da água, e uma oficina de teatro (e um lanche) nas instalações da FAP.
Local: Reservatório de Água do Amial, Rua da Cidade de Vigo, S/N, Porto
Local do acolhimento, bilheteira e WC: FAP no Bairro, Rua da Cidade de Vigo,150, Porto
Datas e horários 2025: 15 de maio, 21h + 23h (estreia)
16, 17, 19, 20, 21 de maio, 21h30
Duração aproximada: 75 minutos
Classificação Etária: M/14
Dramaturgia e Direção Carlos Costa e Jorge Palinhos Cenografia, Figurinos, Adereços Inês de Carvalho Desenho de Luz Pedro Correia Vídeo, Design Gráfico Sara Allen Banda Sonora Original, Sonoplastia, Desenho de Som Vasco Zentzua Cocriação Giorgos Sachinis Interpretação João Delgado Lourenço, Matilde Cancelliere e também Alice Costa, Ana Vitorino, Carlos Costa, Giorgos Sachinis, Marina Aloupi, Rita Pinheiro Coordenação de Produção Cláudia Alfaiate Assessoria Mediática e Gestão de Redes Sociais MS Impacto Secretariado e Assistência de Produção Helena Madeira Produção Visões Úteis, em coprodução com o FITEI - Festival Internacional de Expressão Ibérica, em parceria com as Águas do Porto, EM e com a FAP - Federação Académica do Porto.
Carlos Costa - dramaturgo e encenador - é Diretor Artístico do Visões Úteis e docente na Universidade de Coimbra. Jorge Palinhos - dramaturgo e escritor - é artista residente no Visões Úteis e docente na Escola Superior Artística do Porto, onde também dirige a licenciatura em teatro. “Memória do Aqueduto” será a terceira colaboração entre ambos, depois de em 2021, 2022 e 2023, partilharam a criação de “Demo Cimeira, um campeonato de jogos de tabuleiro”, “O Grande Museu da Consciência de Elon Musk, uma peça para realidade mista” e “Cidades de Bronze, um conSerto para estátuas”.
Entre 2018 e 2020, Carlos Costa desenvolveu um longo processo de pesquisa (e escrita) para o seu segundo romance. Durante esse período, o autor, com a colaboração das Águas do Porto, desceu aos subterrâneos da cidade para visitar a Arca da Praça 9 de Abril e as obras no Rio de Vila. Os subterrâneos onde correm os mananciais - em particular os de Paranhos e Salgueiros, e os que descem do Marquês e do Alto da Fontinha - tornaram-se uma parte importante da sua ficção, que se foi construindo em torno de diversas tensões sociais que - num futuro próximo - atravessariam a cidade do Porto.
Entretanto, Giorgos Sachinis, Diretor Artístico da Ohi Pezoume, um dos mais interessantes coletivos artísticos de Atenas, em particular no que diz respeito à performance para sítios específicos, dividia o trabalho criativo com as suas responsabilidades na EYDAP, a empresa pública de águas da capital grega, assumindo a manutenção e divulgação do Aqueduto de Adriano, bem como um projeto inspirado por este.
Adriano, Imperador romano (século II) deu nome ao aqueduto que decidiu construir em Atenas, garantindo assim uma marca pessoal que perdurasse numa cidade (enfim, numa cultura) que tanto admirava. São quilómetros e quilómetros de túneis que ainda hoje olhamos com espanto, ou melhor, com espantos: Espanto pela eficiência da obra, com o túnel principal a ser alimentado por túneis secundários que reforçam o abastecimento através de outras nascentes de água; espanto pelo descomunal trabalho (provavelmente escravo) que logo associamos à construção; espanto pela contraste desta obra com a outra grande obra do Imperador, um muro que dividia a Grã-Bretanha a meio, “separando a civilização dos bárbaros”; e claro, espanto pelos dois mil anos que nos contemplam nas condutas que abasteceram os atenienses até ao século XX e que ainda nos espreitam quando caminhamos à superfície.
Em 2020, a EYDAP, com mais de 4 milhões de utentes - promoveu um mapa da sua rede de abastecimento, onde se acumulam milhares de anos de construções, que não começaram sequer com o aqueduto de Adriano. O mote do projeto seria ligar quaisquer duas pessoas através da mesma rede que as abastece com aquele que promete ser o bem mais importante do século XXI: a água.
Em maio de 2025, partindo da nossa experiência na criação de formatos performativos híbridos, o Visões Úteis estreia “A Memória do Aqueduto”, um espetáculo inspirado pelo Ciclo da Água, pelo Aqueduto de Adriano e pelo trabalho oculto das equipas que garantem os serviços públicos de águas e saneamento.
Pretendemos assim, aplicar literalmente o mote da EYDAP, aqui entendido enquanto fator cultural, social e económico: toque em quaisquer dois pontos para ligar pessoas através da água. Acreditamos que as redes subterrâneas, correndo em todas as direções, poderão funcionar como uma metáfora (mais ou menos contrastante) com tudo aquilo que à superfície nos divide em termos culturais, sociais e políticos.
E sem esquecer o saneamento, esse supremo patamar civilizacional, parece-nos que a água - a água de que somos feitos, a água enquanto recurso vital para um planeta em aquecimento global, a água que os cientistas afincadamente procuram enquanto garantia de vida para lá do nosso sistema solar, a água que corre através de uma rede invisível - a água é o veículo perfeito para abordar as fronteiras (a mais) e a empatia (a menos) que nos dividem, apesar de estarmos todos ligados… pela água. Uma heterotopia, portanto.
Este trabalho é também um tributo a duas dimensões invisíveis sob os pés de todos os que vivem à superfície, por um lado as construções subterrâneas que aí se acumulam, testemunho de séculos de História; por outro lado, o trabalho das equipas que todos os dias mergulham no solo para garantir que tudo funciona à superfície.