Criações
O diabo em mim
"O diabo em mim" é uma criação de Carlos Costa - com estreia prevista para 2026 - que dá continuidade ao trabalho desenvolvido em Versão Beta (2021), um espetáculo a solo em que se perdia na sua própria biografia.
Entretanto, há já alguns anos que o autor se dedicava, com diligência, à coleção de anúncios de feiticeiros, daqueles que se encontram nos limpa-para-brisas. Isto sem mais razão do que o aparente fascínio com performances que se anunciavam voltadas para o futuro e, mais ainda, empenhadas na sua transformação. Do Professor Bacari ao Mestre Mafu, o amanhã parecia uma página em branco, sempre aberta a possíveis reescritas: amor, saúde, dinheiro, tudo.
E é nesta tentativa de entrada num mundo de encantamentos que trava contacto com Camelia Elias e Bent Sorenson, professores universitários que abandonaram a carreira académica para se dedicarem exclusivamente à cartomancia. Fascinado com esta atitude - ele que também é professor universitário - inscreve-se imediatamente nos cursos fundacionais da Aradia Academy, completando em 2023 os seus três módulos (Tarot de Marselha, Cartas de Jogar, Oráculo de Lenormand):
Ao longo de 5 meses de trabalho intenso, o aprendiz - não de feiticeiro mas de cartomante - experiencia um profundo desvio cognitivo, convencendo-se que, formatado pelo século anterior talvez não pensasse bem, ou então não fosse capaz de mais do que pensar. Decide então sintetizar esta experiência numa performance que simultaneamente possa ser um produto - enfim, algo como um espetáculo, ainda que não focado no entretenimento - e, eventualmente, o início de uma nova linha de atividade, no Visões Úteis, onde se abra um espaço de fusão entre práticas artísticas e curativas.
Procura-se a confiança perante a impermanência, numa alternância de poéticas – entre logos e mito – em que a única compaixão seja a da verdade. Trata-se de aprender a aceitar as práticas propiciatórias enquanto (IN)realidade, capaz de operar num interstício entre desejos e medos. Sim, vamos ler cartas, uma absoluta incongruência agora que a Inteligência Artificial está ao nosso alcance. Sim, mais poesia do que senso comum.