História

O Visões Úteis é um projeto artístico sediado no Porto, onde foi fundado em 1994. O teatro foi a raiz de uma atividade constante e intensa que rapidamente se alargou a outras áreas das artes performativas, como a Performance na Paisagem e a Performance em Comunidade. A criação artística é o núcleo de uma atividade que se alastra por variados domínios como a programação, a circulação nacional e internacional, a edição, o desenvolvimento de públicos e territórios, a edição, a investigação e a formação da equipa. Aqui, os sentidos e limites do estético e do ético, da arte e da política, são debatidos e negociados todos os dias, o que explica as transformações que o projeto constantemente atravessa, e que a seguir se explicam em detalhe.
A fundação foi da responsabilidade de um grupo de pessoas que, anos antes, se tinham cruzado na Universidade de Coimbra e em particular num grupo de teatro universitário: o CITAC – Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra.
Esta matriz informal dá origem, já no Visões Úteis, a um primeiro ciclo de trabalho, entre 1994 e 1999, visando a absorção das mais diversas influências, em que é central a aposta em encenadores convidados (Paulo Lisboa, Paulo Castro, Carlos Curto, João Paulo Seara Cardoso, António Feio, Diogo Dória e José Wallenstein; a que se juntaram as primeiras experiências de encenação de Nuno Cardoso, um dos fundadores) levando à cena um vasto leque de autores como Genet, José Gomes Ferreira, Dostoievski, Ionesco, Beckett, Boris Vian, Dacia Mairani, Gregory Motton, Martin McDonagh, Kafka, ou Al Berto, e colaborando com os principais programadores da época como a Culturgest, o Centro Cultural de Belém e o Teatro Nacional de São João.
Entre 1999 e 2008, podemos apontar um segundo ciclo de trabalho, orientado pela necessidade de pesquisa e laboratório. Predominam então os trabalhos dirigidos pelos responsáveis artísticos da companhia e a criação dramatúrgica ganha especial relevo. Neste período destaca-se a abordagem a autores como Kafka, Tonino Guerra, Tchekov, Pirandello, Gregory Motton, Bohumil Hrabal, Ibsen, Juan José Millàs, Gemma Rodriguéz, bem como a regular edição dos textos produzidos. Mas importa salientar, sobretudo, a crescente importância de espetáculos completamente originais e de uma metodologia de escrita de cena que se vai sedimentando ao longo da primeira década do século XXI.
Desde a fundação que a atividade se desdobrou em diversos projetos, paralelos à criação e itinerância de espetáculos de teatro, que desde sempre traduziram o desejo de confronto com outras áreas artísticas– através da organização de encontros de criadores e da produção de exposições e concertos– e com públicos distantes da produção artística– apresentação de espetáculos em estabelecimentos prisionais, em pequenas localidades do interior e em diferentes espaços urbanos, trabalho com crianças e jovens de áreas carenciadas e com público escolar. Esta diversificação passou também pelo rápido enquadramento dos novos processos digitais de criação, organização e difusão de conteúdos, pelo início da criação em áreas transdisciplinares e pelo progressivo desejo de internacionalização.
Em 2001 o Visões Úteis recebeu a Medalha de Ouro de Mérito Cultural da Cidade do Porto, em reconhecimento da sua ação artística junto de públicos diversificados; e no mesmo ano deslocou-se ao Parlamento Europeu, onde apresentou, a convite da Comissão de Cultura, uma comunicação sobre o seu percurso pessoal em articulação com uma ideia de cultura e acesso à cultura na Europa.
Entretanto, e a partir de 2001, o projeto artístico alargou-se progressivamente a trabalhos sobre a paisagem urbana que foram conhecendo uma progressiva internacionalização, nomeadamente através de parcerias com instituições prestigiadas de Espanha, França e Itália. E, ao longo da década, os trabalhos sobre a paisagem urbana começaram também a abrir caminho para processos de criação no âmbito da Performance em Comunidade, e sempre acompanhados por um crescente reconhecimento da crítica, dos públicos e de instituições como o Teatro Nacional de São João ou o Teatro Nacional Dona Maria II.
A partir de 2009, e com a mudança de instalações para a Fábrica Social, a equipa permanente cresce de forma a permitir um trabalho quotidiano cada vez mais estruturado e dinâmico. Esta situação apresentou-se como um convite a novas formas de organização dos processos criativos (numa multiplicação de oportunidades para todos os criadores envolvidos), a uma acrescida capacidade de produção e a um envolvimento permanente com a comunidade.
O Visões Úteis assumia-se já como um projeto artístico marcadamente de autor, que se produzia a si próprio, um projeto pluridisciplinar, com uma direção partilhada e assente em metodologias de trabalho colaborativas que convocam uma especial participação de toda a equipa artística, corporizando paradigmas das artes performativas, na Europa e nos Estados Unidos da América, e a que normalmente se associava, em Portugal, a conotação com a “escrita de Cena” e a designação de “coletivo Visões Úteis”.
Assim, ao longo da segunda década do século XXI, e sempre na Fábrica Social (o ponto mais alto da cidade do Porto), o projeto estético continuou a crescer em sintonia com uma forte motivação ética – poderemos mesmo dizer política – numa constante reflexão acerca do sentido contemporâneo de fazer arte e teatro, que quotidianamente marcou as opções de trabalho e agudizou a consciência da responsabilidade social e política para com as comunidades envolventes. Consciência esta que exigiu a presença permanente de um Serviço Educativo, um espaço onde as metodologias de trabalho das artes performativas se convertiam em ferramentas de reflexão e autonomia da população em geral, e em particular de todos aqueles que viviam nas periferias, fossem estas de geografia, género, geração, cultura ou etnia.
O núcleo do Visões Úteis continuava a ser a criação artística, mas a sua atividade espalhava-se cada vez mais por outros domínios como a programação, a circulação nacional e internacional, a edição, o desenvolvimento de públicos, a investigação e a formação da equipa.
Em 2020 o Visões Úteis muda as suas instalações para a freguesia de Campanhã, dando assim uma convicção mais profunda aos sentidos projetados para a década seguinte, em que mantendo (ainda e sempre) a criação artística como núcleo do projeto, assume com igual convicção o crescimento da sua atividade para outros domínios, em particular o da programação, enquanto parceiro da Câmara Municipal do Porto, para o pólo de Campanhã do Programa Cultura em Expansão.
A Direção Artística é de Carlos Costa, que partilha a direção de projetos e os processos de criação com Ana Vitorino, Inês de Carvalho, João Martins e Jorge Palinhos, e ainda com diversos artistas convidados. Juntos garantem, através dos seus ricos e transversais percursos de formação e experiência, a pluridisciplinaridade e transversalidade de um projeto artístico que, até ao final de 2021 criou e produziu, em Portugal, Espanha, França e Itália, 45 espetáculos de teatro, 10 trabalhos na área de Performance na Paisagem, 3 Performances em Comunidade, 5 festivais/encontros de criadores.
O Visões Úteis é membro da PLATEIA – Associação de Profissionais das Artes Cénicas, do IETM – International Network for Contemporary Performing Arts, da APCEN - Associação Portuguesa de Cenografia e da Fundação Anna Lindh.
O Visões Úteis é uma estrutura financiada pela Direção-Geral das Artes, do Ministério da Cultura do Governo de Portugal