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IETM 2011 - Dilemas de Estocolmo

Depois de Vilnius (2009) e Berlim (2010), estivemos nos passados dias 14, 15 e 16 de Abril em Estocolmo, em mais um plenário do IETM – International Network for the Contemporary Performing Arts, organização que reúne diversos agentes das artes performativas, vindos dos quatro cantos do mundo, e que promove a discussão de diversas questões, sobretudo relacionadas com política cultural e economia das artes. Os encontros plenários funcionam assim como um espaço de partilha de boas práticas mas também de contacto com os projectos artísticos locais.
Em Estocolmo, o debate centrou-se na pressão para a mudança que afecta o sector, na sequência dos impactos económicos da crise de financeira de 2008. Ao longo das discussões foi-se agudizando a sensação de que, de facto, uma parte importante do modo de produção a que o sector está habituado terá urgentemente que se transformar, sob pena de desaparecer. E a verdade é que grande parte dos postos de trabalho que sustentam hoje as artes performativas, e não existiam sequer há 30 anos, estão agora sob grande pressão, com a rápida mudança de valores imposta pelos constrangimentos económicos. Atravessar este período deverá então implicar capacidade de resistência ou de metamorfose mas, de um modo ou de outro, sempre a capacidade de abandonar alguma da segurança do mundo que até agora conhecemos.
Assim, e perante as mudanças no mapa do financiamento da criação artística, impostas pela actual crise e comuns à grande maioria dos países europeus, torna-se urgente encontrar novos modos de descrever, aos públicos e aos decisores, a importância do sector. Porque se mudam os argumentos – leia-se os valores – terão que mudar necessariamente as abordagens. Ora, esta situação revela-se particularmente complicada no caso português, onde a discussão de paradigmas para as políticas culturais se encontra ainda numa fase primitiva, tal é o modo como a discussão política é normalmente atropelada pelos interesses pessoais dos agentes mais próximos dos centros de decisão.
O plano traçado em Estocolmo, e a desenvolver ao longo dos próximos três anos, passa pela substituição dos argumentos políticos de carácter geral, pela força das histórias associadas a casos de boas práticas, que serão recolhidas e documentadas até 2014, em áreas tão diversas como os temas escolhidos pelos artistas, a colaboração com outros sectores, os formatos de relação com o público, ou os modelos de negócio que sustentam os projectos, entre outras. Enfim, trata-se de encontrar e apresentar visões para a utilização dos recursos públicos, abandonando o constante lamento acerca da dificuldade de casos individuais.
No mesmo sentido destas propostas para o futuro, parecem estar também novos modelos de organização, já nascidos no seio desta incerteza endémica, e que rapidamente mudam de táctica e abandonam, sem arrependimentos, os compromissos prévios. Trata-se de modelos obviamente mais informais, horizontais e efémeros, que contrariam a acelerada tendência para a institucionalização dos modelos surgidos, nomeadamente, na década de noventa. Mas também modelos em “guarda-chuva” que congregam uma pluralidade de organizações locais.
Naturalmente todas estas questões de elasticidade e metamorfose tornam-se mais complexas quando pensamos que, em certos casos, a flexibilidade pode esvaziar de sentido o projecto (nomeadamente o projecto de criação). Nestes casos a resposta terá de passar por uma capacidade de resistência que aguente a pressão política e económica, preservando a razão de ser do projecto... ou seja, ser demasiadamente elástico pode ser tão mau como ser absolutamente rígido.
Times are changing...