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Ao João Paulo Seara Cardoso

Dizer que sofremos mais uma perda é não dizer nada. Porque “perda” é uma palavra demasiado pequena para este vazio e o João Paulo não era “mais um” em nada. Inconfundível no humor, na provocação, na beleza da escrita, no entusiasmo da criação, na constante insatisfação. E sobretudo na gargalhada.

Esta noite muda a hora. Isto é importante porque amanhã temos hora marcada para nos despedirmos de um amigo. Mas mais importante seria que esta noite terrível que nos vai roubando os amigos passasse de vez, e finalmente chegasse um dia em que não houvesse mais despedidas.

E ouve, João Paulo: É verdade que conseguiste transformar marionetas em actores, mas quantas vezes já te dissemos que o contrário não é possível? Os actores não conseguem ser marionetas, nem mesmo quando isso lhes dá jeito. Porque se saltarem demais ficam tontos, se caírem partem uns ossos, se não comerem desmaiam... E se os deixares sofrem, sentem-se órfãos e choram bem alto com a dor da tua ausência. Estás a ouvir?