Guião do audiowalk homónimo, de 2004. Realizado em Parma, Itália.
Disponíveis versões em português e inglês.
"Errare", de Ana Vitorino, Carlos Costa e Catarina Martins está publicado ao abrigo duma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 2.5 Portugal License.
"Errare", na sua versão inglesa, por Ana Vitorino, Carlos Costa e Catarina Martins está publicado ao abrigo duma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 2.5 Portugal License.
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A relação do Visões Úteis com a cidade de Parma nasceu em 1997 quando, na sequência da selecção para representar Portugal na Bienal de Jovens Artistas da Europa e do Mediterrâneo, a companhia participou no festival de teatro “Anteprima”. Mais tarde, no ano de 2001, e na viagem que integrou o projecto “Visíveis na estrada através da orla do bosque”, Parma foi um ponto de paragem num itinerário físico que, antes de mais, traçava uma viagem de ideias e descobria pontos de contacto nas reflexões de uma diversidade de artistas e intelectuais do nosso continente.
Em ambas as ocasiões foram nossos interlocutores privilegiados os elementos da Fundação Cultural Edison; no primeiro encontro ainda a dar os primeiros passos, no segundo já com um trabalho firmado e diversificado na área da produção cultural, que incluía projectos com nomes grandes como Sebastião Salgado, Emir Kusturica ou Peter Greenaway.
E finalmente, em 2004 surgiu a oportunidade de transformar em colaboração esta empatia pessoal e artística que foi unindo o Visões Úteis à Edison (recentemente rebaptizada de Fundação Solares).
A criação, em co-produção, de um audio-walk original para a cidade de Parma foi o desafio comum. Um desafio que nos atraía especialmente pela especificidade de trabalhar numa cidade que não conhecíamos bem e numa língua que não era a nossa.
Para este trabalho a equipa do Visões Úteis permaneceu em Parma em regime de residência, durante os meses de Abril, Maio e Junho. Mas ainda antes de chegarmos à cidade tínhamos definido a linha dramatúrgica que distinguia essencialmente Errare da anterior experiência com Coma Profundo. O olhar sobre a cidade seria necessariamente um olhar estrangeiro, as impressões recolhidas (da arquitectura, da História, do ambiente deste lugar) seriam necessariamente superficiais. A posição social e politicamente crítica que adoptáramos em Coma Profundo ao reflectirmos sobre a nossa cidade não fazia sentido nesta experiência. Desenvolvemos assim uma narrativa ficcional, uma reflexão ainda sobre a relação entre o homem e o lugar, ainda sobre o lugar da memória, mas agora centrada numa evolução pessoal face a essa reflexão.
Do trabalho desenvolvido ao longo deste meses surgiu ainda um vídeo documental realizado por Michele Putorti - “Errare – Um audio-walk” que já foi exibido em alguns festivais e encontros vídeo.
Em Errare o espectador segue um caminho desenhado pela relação entre duas vozes, duas (id)entidades. A primeira é a de um homem que, ao perceber que começa a perder a memória, decide refugiar-se numa cidade estrangeira e vagabundear até desaparecer. A segunda é a do seu irmão mais novo, que não conhece a cidade e que tenta seguir seus os passos através de uma série de indicações imperfeitas que o irmão lhe deixou, assumindo o espectador como seu cúmplice.
O caminho percorrido parece não fazer sentido, mas a cidade estrangeira transforma-se no território onde se vai questionando o próprio processo de construção da memória.