"É simples: Se isto fosse explodir tudo e tivesses um minuto para agarrar qualquer coisa para salvar, o que é que salvavas?"
A conservação das memórias através de um arquivo morto (ou de objetos do passado) é algo que nos prende a um tempo onde já não podemos existir nem atuar. Não será, assim, o ato da destruição desse arquivo uma libertação necessária para podermos pertencer verdadeiramente ao presente e nos projetarmos no futuro, para nos podermos mover, seguir caminho? Por outro lado, sem esse espólio seremos nós ainda alguma coisa? Não será a única forma de identificação de uma pessoa a materialização daquilo que fez e experienciou no passado?
“Teoria 5S”, coprodução entre o Visões Úteis e o Teatro Municipal do Porto, foi a primeira de duas criações originais – a que se seguiu “Velocidade de Escape”, coprodução com o Teatro Nacional S. João em março de 2018 – dedicadas a esse confronto com o nosso lastro físico, e à eventual (ilusória?) libertação que a sua destruição ou redução minimalista nos poderá trazer.
O espetáculo, que reflete com humor sobre uma certa ansiedade reducionista (ou mesmo minimalista) dos nossos tempos, inspira-se no confronto com o arquivo que o Visões Úteis criou ao longo de mais de duas décadas, e é marcado pelo reencontro com dois atores que ocupam um lugar muito especial nesse arquivo – e na própria história do teatro do Porto -, Jorge Paupério e Óscar Branco.
Em “Teoria 5S”, um grupo de pessoas mergulha no seu arquivo comum, forçando-o aos ensinamentos e regras trazidos por uma especialista em metodologias de arrumação, organização e eficácia. Um caminho de redução material que tenta criar espaço para um futuro mais promissor, mas que vai afinal mostrar-se cheio de paradoxos, expondo fragilidades individuais e fraturas dentro do próprio grupo. Se calhar alguns de nós não cabem no futuro…?
Duração: 75 minutos
Maiores de 12 anos
Direção e Texto Ana Vitorino, Carlos Costa, João Martins Cenografia e Figurinos Inês de Carvalho Desenho de Luz Pedro Correia Banda sonora original e Sonoplastia João Martins Vídeo Nuno Barbosa Cocriação Ana Azevedo, Jorge Paupério, Óscar Branco Interpretação Ana Azevedo, Ana Vitorino, Carlos Costa, Jorge Paupério, Óscar Branco Produção Executiva Teresa Camarinha Coordenação de Montagem: Zé Diogo Cunha Apoio Adão Oculista, Anjos Urbanos
"Mas aquilo não era um filme, era a realidade, eram homens a sério numa guerra a sério. E a realidade é muito mais desorganizada do que um filme."
“Romance da Última Cruzada” é a segunda criação original do Visões Úteis em 2016, um ano dedicado ao eixo temático “Biografias”. Inspirado pelos diferentes modos de representar as experiências de guerra ao longo dos tempos, o espetáculo reflete sobre a forma como a representação da biografia condiciona a própria construção da memória e da identidade.
Nesta “cruzada” não se busca a verdade histórica ou qualquer tipo de redenção para a (aparentemente) inevitável atração humana pelo conflito. Antes se viaja por testemunhos, ficções, documentos biográficos e manuais de guerra, tentando desvendar a verdade sobre o momento retratado numa imagem fotográfica: a de um soldado caído em circunstâncias desconhecidas, um homem que parece lançar um apelo dramático a quem pousar nele o olhar.
Em “Romance da Última Cruzada” seguimos as fascinantes nuances que determinam a sedimentação da memória individual e da própria História, sublinhando coincidências biográficas, mas também as divergências entre os factos relatados a partir da memória individual e os que ficaram marcados na memória coletiva.
Do “Romance” de Vivian Gilbert – ator que combateu na Primeira Guerra Mundial e mais tarde se dedicou a representar a sua própria experiência –, a que o espetáculo vai beber o nome, ao Manual de Recrutamento do Estado Islâmico, dos Romances de Cavalaria às “personagens reais” do jogo “Call of Duty”, aqui se encontram (e constroem em tempo real) os retratos de muitos momentos e vidas.
Verosímeis? Talvez. Apaixonantes? Certamente!
“Romance da Última Cruzada” é uma criação original de Ana Vitorino e Carlos Costa e uma coprodução Visões Úteis / Teatro Académico de Gil Vicente / Teatro Municipal de Vila Real. O espetáculo estreou a 16 de novembro de 2016 no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra.
Duração: 70 minutos
Classificação etária: M12
"Hoje em dia é tudo muito rápido. Apegamo-nos muito depressa uns aos outros."
Na segunda metade de 2015, e depois de nos debruçarmos sobre as características da identidade nacional com "trans/missão", voltámo-nos para a identidade europeia e os conflitos que o debate sobre o acolhimento de "outros" veio revelar.
Em "Yuck Factor" propusemos um menú com comida e repugnância, em doses (provavelmente) superiores às diárias recomendadas! Seguimos o trabalho de uma peculiar equipa, que prepara e leva a cabo um evento adequado a convidados de todos os tipos e nacionalidades. Uma oportunidade para esclarecer e transmitir as regras e procedimentos determinantes para uma reunião bem sucedida. Mas também para refletir sobre a Europa de hoje, a frágil construção da nossa identidade comum e os perigos da crescente intolerância.
Espetáculo para maiores de 16 / Duração aproximada: 1h30
PORTO: Teatro Carlos Alberto
Data: de 25 a 29 de novembro
Horário: 21h (4ª a sáb) / 16h (dom)
OVAR: Centro de Arte
Data: 12 de dezembro
Horário: 22h
texto e direção Ana Vitorino, Carlos Costa cenografia e figurinos Inês de Carvalho banda sonora original e sonoplastia João Martins com voz de Rita Camões desenho de luz José Carlos Gomes cocriação Ainhoa Hevia Uria, Cristóvão Carvalheiro coordenação de produção Marina Freitas interpretação Ainhoa Hevia Uria, Ana Vitorino, Carlos Costa, Cristóvão Carvalheiro coprodução Visões Úteis, Centro de Arte de Ovar acolhimento Teatro Nacional São João apoio ICEL
Design: João Martins Foto: Paulo Pimenta
Sinopse
Em "trans/missão" um músico e um dramaturgo abrem ao público o seu processo de trabalho numa ópera que se pretende revolucionária: uma criação que questiona precisamente as dificuldades de organização e mobilização dos coletivos - seja uma equipa artística, uma comunidade ou todo um povo... de que o português é um especial bom exemplo.
Mas, ao longo desta apresentação pública, torna-se evidente a própria dificuldade de colaboração entre os dois artistas, que entram numa rota de colisão que ameaça destruir todo o projeto!
"trans/missão" é um espetáculo híbrido, que junta música e teatro, e onde o processo colaborativo artístico é utilizado como espelho das marcas de uma identidade nacional, que parece estar fadada à não-inscrição e à dificuldade de mobilização. Partindo do diagnóstico traçado por obras como "Portugal Hoje, o Medo de Existir" de José Gil, a peça explora com humor a tensão entre o pensar e o agir, e a nossa aparente incapacidade de passar dos diagnósticos à mudança concreta.
"trans/missão" é uma coprodução Visões Úteis / Teatro Municipal do Porto e contou ainda, no seu processo de criação, com uma série de parcerias e colaborações muito especiais, nas áreas da Música (NEFUP, Sonoscopia, Porta-Jazz, Ensemble Super Moderne) Fotografia (Paulo Pimenta e Fotógrafos convidados pelo Mira Forum) e Sociologia (Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto).
Próximas Apresentações / 2020:
7 e 8 de fevereiro: Atenas, espaço 1927 (Grécia) - versão inglesa
22, 23 e 25 de abril: Culturgest (Lisboa)