“...são outras coisas, são pequenas coisas, as luzes baixas, as cortinas corridas..”
Para falar do mal partimos do normal.
Partimos de um conceito de normalidade pelo qual pautamos o discurso e a postura das personagens, bem como o ambiente plástico e sonoro que as rodeia. Falamos da normalidade enquanto imagem daquilo que é socialmente definido e aceite, imagem à qual por vezes nos agarramos, histericamente, artificialmente, quando tudo à nossa volta (ou dentro de nós) parece questionar quem somos e o modo como nos relacionamos. Exploramos os falsos equilíbrios que criamos diariamente quando a dor e a dúvida se tornam demasiado pesadas, quando tentamos adiar um problema que atinge o coração da nossa imensa fragilidade.
Sinopse
O habitante do número 667 daquela rua era um homem absolutamente normal: pai de família, bom profissional, empreendedor. Apenas uma coisa perturbava o doce correr dos seus dias: a estranheza que emanava da casa ao lado, o aspecto bizarro e as movimentações suspeitas do seu vizinho.
Este vizinho do lado transforma-se lentamente na personificação de todo o mal. O seu aspecto e as suas acções são-nos transmitidos pelos olhos de 667 que o observa fascinado, quase com obsessão, a partir de sua casa.
Assim, enquanto nos deixamos seduzir pelo mistério da casa ao lado, enquanto somos atraídos pela possibilidade de nela residir o mal de todos os males, a nossa atenção é tentada a desviar-se do homem que na realidade se vai revelando: 667, o nosso “espião”, é um homem à beira da ruptura, incapaz de aguentar a pressão da família e do trabalho. A “paz” no seio do seu lar, que nos vai sendo apresentada, assenta em tédio e frustração.
Será a “casa ao lado” o refúgio do Diabo, figura essencial para a paz de espírito do homem “normal” / pai de família? Ou apenas um espelho da sua própria hipocrisia e da crescente disfunção na sua vida familiar?
Estatísticas
Co-produção com o Rivoli – Teatro Municipal
Estreou a 21 de Junho de 2003 no Teatro Municipal Rivoli no Porto. Além do Porto foi apresentado em Coimbra e Vila Real num total de 15 apresentações.
Ficha Artística
direcção, dramaturgia e texto
Ana Vitorino, Carlos Costa e Catarina Martins
espaço cénico e figurinos
Paulo Soares
banda sonora original e sonoplastia
João Martins
desenho de luz
José Carlos Coelho
apoio ao processo de escrita
Nuno Casimiro
interpretação
Ana Azevedo, Ana Vitorino, Carlos Costa, Catarina Martins e Fernando Moreira
design gráfico
Vitor Azevedo/DeC
direcção técnica
Pedro Carreira
produção executiva
Ágata Marques Fino
produção
Visões Úteis