Estão já disponíveis na nossa Galeria Virtual os dois filmes que integram o Dvd que recentemente editámos:
"Corpo Casa Rua" de Tiago Afonso, baseado no projeto comunitário com o mesmo nome que desenvolvemos em 2013, e "Bioencorporado" de Alexandre Martins, uma leitura vídeo sobre a nossa primeira criação original de 2014, "Biométricos".
Os filmes podem também ser vistos no nosso canal Vimeo.
Corpo Casa Rua
um filme de Tiago Afonso inspirado no projeto comunitário "Corpo Casa Rua".
original português
Depois de no passado mês termos recebido os alunos da Universidade do Autodidata e da Terceira Idade do Porto (UATIP) no Teatro Carlos Alberto, onde puderam assistir ao espetáculo "Ficheiros Secretos", amanhã (11 de dezembro) é a nossa vez de regressarmos à UATIP, para mais uma conversa acerca dos nossos processos de criação
O tema será a nossa primeira criação original deste ano - "Corpo Casa Rua", performance que, no passado mês de junho, juntou 21 participantes, com idades entre os 8 e os 80 anos, pertencentes a quatro comunidades, na Estação de Metro de São Bento (Porto).
O espetáculo, e o seu processo de criação, deu origem a uma leitura vídeo realizada por Tiago Afonso, que agora será disponibilizada ao público geral nos nossos canais digitais, e que exibiremos em primeira mão na UATIP, nesta nossa visita.
Ao longo do mês iremos também exibir o filme de "Corpo Casa Rua" nos locais onde podemos encontrar a maior parte do elenco desta criação; começando, já na próxima sexta-feira, dia 13, pelas Aulas de Teatro do Serviço Educativo do Visões Úteis - numa sessão que juntará os alunos da turma do ano passado (intérpretes do espetáculo) aos que este ano iniciaram as aulas.
"Se calhar não devíamos estar na rua..."
Sinopse
"Corpo Casa Rua" designa uma performance no espaço público que juntou 21 participantes, com idades entre os 8 e os 80 anos, pertencentes a quatro comunidades - os alunos das Aulas de Teatro do Serviço Educativo do Visões Úteis, alunos do Serviço Educativo do Balleteatro Escola Profissional, utentes seniores do Centro de Dia da Junta de Freguesia de Santo Ildefonso e reclusas do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo.
Durante 5 dias no mês de junho de 2013 os utilizadores do metro do Porto e o público em geral puderam cruzar-se com as "casas" e habitantes destas comunidades na Estação de Metro de São Bento (átrio principal) - numa performance que pretendeu gerar uma heterotopia, congregando num único espaço o que não está ou não pode estar junto à superfície. Um espetáculo de acesso gratuito e destinado a público de todas as idades.
Ao longo de três meses, "Corpo Casa Rua" reuniu 21 participantes de 4 grupos distintos, associados ao Serviço Educativo do Visões Úteis. Pretendemos, pela primeira vez, juntar a equipa artística do VU às comunidades que integram o nosso Serviço Educativo, num processo criativo em que as habituais metodologias de trabalho fossem forçadas a uma adaptação a contextos diversos, em termos sociais, culturais, económicos e geracionais. Na verdade, a experiência não seria completamente nova, porque há cerca de dez anos, e em colaboração com Isabel Alves Costa e o (extinto) Rivoli Teatro Municipal, já tínhamos arriscado algo parecido. Apenas parecido.
Desta vez, propusemo-nos a trabalhar uma vez por semana com cada um dos grupos: 4 crianças de uma turma de teatro do Serviço Educativo do Balleteatro, 6 seniores do Centro de Dia da Junta de Freguesia de Santo Ildefonso, 5 jovens da turma de teatro do Serviço Educativo do Visões Úteis e 6 mulheres reclusas no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo. E ao longo de 12 semanas fomos abordando exatamente as mesmas pistas de trabalho com cada grupo, partindo em cada semana de um motivo comum, mas necessariamente utilizando metodologias diferentes em cada contexto. E em comum, também, a necessidade de imaginar como seriam "os outros" - todos os nomes sem rosto - de quem semanalmente cada grupo ouvia falar, mas que só conheceria na semana anterior às apresentações;
E assim fomos construindo um caleidoscópio em que se confundiam diferentes modos de definir identidade, tanto ao nível mais íntimo do Corpo - último reduto de cada um - como ao nível do espaço público que partilhamos. E se nunca pretendemos tornar simples o que é complexo, também é verdade que nunca nos deixámos de surpreender com a imensa teia de consensos e antagonismos com que quotidianamente nos deparávamos, e cujos contornos se definiam por fatores (des)agregadores multiplos, em que a pedra de toque tanto podia ser a idade, o género, a biografia ou o contexto social.
E mais do que tentar expressar o visível - o que somos - tentamos paulatinamente expressar o invisível de que se tece o desejo do que gostaríamos de ser, ou de ter sido. Sempre imaginando que esta congregação de (im)possíveis se juntaria, num momento final, numa estação de Metro do Porto, criando assim uma heterótopia, na medida em que reuniria num mesmo espaço (subterrâneo) o que coexiste (à superfície) num mesmo tempo, mas nunca num mesmo espaço.
Não exageramos se dissermos que - nos quase 20 anos de atividade do VU - este foi o processo criativo mais sujeito a contingências e transformações. Não só pela sua natureza em si - juntar o que não está junto - mas também pelo conturbado momento que o país atravessa e que nos levou a sucessivos cortes no orçamento da produção e um encaixe de sucessivos e incontroláveis fatores. E, a eleger o mais avassalador, teríamos que destacar as sucessivas convocações e desconvocações de greves pelo Corpo da Guarda Prisional, que constantemente conduziam ao encerramento de algumas das participantes nas suas celas durante 22 (!) horas por dia.
Por tudo isto, em "Corpo Casa Rua", ao fascínio deste processo criativo juntou-se uma muito particular obsessão com o produto, transformando-se este num desejo de efetivamente chegarmos todos juntos ao fim de um processo, que quotidianamente mostrava que tínhamos tudo para falhar, ou seja, para abandonarmos a convicção na possibilidade - ainda que transitória - da heterotopia.
Mas chegámos ao fim - ou melhor deveremos chegar ao fim. E, no seu final, acreditamos que "Corpo Casa Rua" se exprime de uma forma paradoxal: Por um lado, um processo centrado em consensos e numa noção de comunidade mais vasta do que o quotidianamente habitual; Por outro lado, um objeto em que, quase sempre, os consensos são preteridos pela convergência de ideias diferentes acerca do que partilhamos e do modo como o deveríamos fazer. Porque - e apesar de sermos todos tão "humanamente" parecidos em tantas coisas - a verdade é que todos pensamos de modo diverso.
Antes assim, em confronto aberto pela Praça de uma cidade que amamos, do que silenciados em nome de um consenso estúpido e hipócrita.
Se calhar não devíamos estar na rua...
Estreia já no próximo dia 17 de junho a nossa nova criação "Corpo Casa Rua", uma performance no espaço público que junta 21 participantes, com idades entre os 8 e os 80 anos, pertencentes a quatro comunidades - os alunos das Aulas de Teatro do Serviço Educativo do Visões Úteis, alunos do Serviço Educativo do Balleteatro Escola Profissional, utentes seniores do Centro de Dia da Junta de Freguesia de Santo Ildefonso e reclusas do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo.
De 17 a 21 de junho os utilizadores do metro do Porto e o público em geral poderão cruzar-se com as "casas" destas comunidades na Estação de Metro de São Bento (átrio principal) e, durante cerca de uma hora todas as tardes, com os próprios moradores - numa performance que pretende gerar uma heterotopia, congregando num único espaço o que não está ou não pode estar junto à superfície. O espetáculo é de acesso gratuito e destina-se a público de todas as idades.
Antes assim, em confronto aberto pela Praça de uma cidade que amamos, do que silenciados em nome de um consenso estúpido e hipócrita.
Local: Estação de Metro de S. Bento (Porto)
Datas: 17 a 21 de junho (2ª a 6ª)
Horário: 18h
direção Carlos Costa
dramaturgia Ana Vitorino, Carlos Costa
cenografia, figurinos e adereços Inês de Carvalho
cocriação e cocoordenação de participantes Ana Azevedo
banda sonora original e sonoplastia João Martins
desenho de luz José Carlos Coelho
vídeo Tiago Afonso
coordenação de produção Marina Freitas
interpretação e cocriação Ana Cardoso, Ana Coelho, Carla Sofia Martins, Carmen Gonçalves, David Coelho, Emanuel Costa, Fernanda Barros, João Paulo Lima, Leonor Quinta, Margarida Pinto, Maria Emília, Maria José Mendes, Martim Pinto Paiva, Patrícia Martins, Patrícia Susana Alves, Rita Ribeiro, Rute Andreia Nunes, Sissi Aubert, Teresa Alves Pires, Teresa Fernanda Ramalheira e Vitorino Neves.
colaboração Teatro Nacional São João, Balleteatro Escola Profissional, Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, Junta de Freguesia de Santo Ildefonso e Serviço Educativo do Visões Úteis
produção Visões Úteis